O autoconhecimento, comumente entendido como a identificação de nossas deficiências evolutivas no campo moral, demanda outros aspectos que se desdobram em relação ao tema.
Com efeito, apenas constatar algumas deficiências que todos nós, Espíritos estagiários na Terceira Ordem da Escala Espírita temos, deficiências essas nas mais variadas categorias e intensidades, por si só, não é a resolução do problema e, muitas vezes, nem o início do trabalho na direção de começar a resolver essas questões, a depender da maneira como encaramos essa realidade em nós.
Com efeito, constatada algumas deficiências, que também podem manifestar-se como problemas de ordem psicológica, podemos tender a negar que estejamos num ou noutro quadro, empreendendo uma fuga impossível de nós mesmos, buscando reprimir essa constatação, como também podemos vir a, por outro lado, macerar-nos a nós mesmos, com adjetivos e epítetos em que nos depreciamos com pensamentos pejorativos dirigidos a nós mesmos, procurando diminuir-nos, maltratarmo-nos, em lugar de, constatando essas questões, empreender o inventário delas e observar-lhes como estão em nosso acervo íntimo e como se manifestam em nosso dia a dia em todos os ambientes por onde trafegamos.
O trabalho do autoconhecimento requer de nós a autoaceitação, o autoperdão, a autocompreensão e mais outros ângulos do assunto, como também considerar o fator reencarnatório, ou a reencarnação, pois trazemos essas questões que nos colocam em confronto conosco mesmos, em relação ao que temos sido e ao que pretendemos ser, entre o que está colocado por nós em nós e que queremos mudar em nós para melhor, e são quadros que temos alimentado ao longo das diversas experiências reencarnatórias que temos vivenciado e que se somam à atual.
Todo esse movimento de autoencontro com a autoaceitação não significa que venhamos a assumir uma posição de conivência para conosco mesmos, procurando justificar-nos e continuarmos como estamos, sem empreender algum movimento, mínimo que seja, de mudança em relação ao que foi constatado em nosso íntimo e que não está bem, pois que tal atitude seria, na verdade, uma postura de fuga do assunto, em lugar de encara-lo, analisa-lo e procurar-lhe uma solução, como também nem tampouco iremos autossatanizar-nos, com adjetivos muitos fortes e alimentarmos sentimentos de rejeição de nós para conosco, quando não outra espécie de sentimento mais forte de teor negativo.
Um outro dado que também devemos considerar é a presença de Espíritos menos felizes ao nosso derredor em nosso dia-a-dia, alguns companheiros de erros, outros que tentam explorar os encarnados em seus desacertos, uma vez que tendências e gostos geram companhias espirituais próximas a nós, de qualquer natureza que sejam essas tendências e esses gostos.
Esses irmãos menos felizes influenciam a nós encarnados para uma direção menos equilibrada, por diversos motivos, e entre eles podemos citar a inveja, a vingança ou por pertencerem à cooperativas criminosas do mundo espiritual, esta última possibilidade podendo ser de modo concomitante às duas primeiras hipóteses aventadas, posto que os desencarnados voltados para a ação prejudicial consorciam-se no crime, à semelhança do que ocorre no nosso mundo dos encarnados, apenas guardando uma outra maneira de agir e o móvel no crime manifestado duma outra forma.
E esta situação ocorre a partir da exploração do que trazemos em nós, em termos de deficiências evolutivas morais, pois a partir delas é que podemos ser explorados, atingidos pela ação menos feliz, tanto de desencarnados quanto de encarnados.
Um outro aspecto que envolve o problema é de natureza psicológica e que se mistura aos demais, aos fatores reencarnatório e à influência espiritual, com o ego e suas manifestações, a partir do egoísmo em si, a maior dificuldade que trazemos em nós e geradora de outras dificuldades, pois algumas das suas manifestações, do ego, trazem o cunho de desarmonia e são como empeços à evolução moral nossa, não obstante ele cumprir outros papéis úteis e importantes na nossa estrutura psicológica, além das máscaras que assume.
Isto porque, uma vez que constatemos em nós alguns aspectos menos agradáveis que todos os temos, podemos assumir uma postura reativa ou passiva, nesta última tenderemos à vitimização, à autopiedade muito grande, à culpa, à frustração, ao pessimismo; enquanto que na postura reativa tendemos a reagir com revolta, autopunição, crueldade, raiva e outros sentimentos menos equilibrados.
Essas reações tanto podem dar-se quando de experiências que vivenciamos na existência, quanto ao constatarmos que trazemos algumas deficiências, em lugar de assumirmos uma postura proativa, no sentido de reconhecermos como estamos, sem fugas ou outros mecanismos usados pelo ego, nas suas diversas máscaras, e procurarmos meios, caminhos para ir trabalhando a solução desses desafios, que nós mesmos temos gerado para nós.
E nessas manifestações de comportamentos também comparecem os desencarnados, sejam os que querem ajudar-nos, emular-nos ao avanço, ajudar a nossa evolução que se manifesta na autossuperação nossa, quanto os menos felizes que se comprazem em prejudicar e infelicitar, uma vez que eles mesmos infelicitados encontram-se e sentem-se, e estes últimos vão estimular-nos na postura passiva ou reativa, de maneira a que nos mantenhamos em desequilíbrio, sem alguma lucidez, constituindo-se em mais um fator de dificuldade, pois que tenderão a potencializar em nós esses estados que já trazemos em nós.
Daí porque compreendemos que o autoconhecimento depara-se com mais esta realidade, porque a partir de nós e para onde queremos dirigir-nos teremos companhias que buscarão ajudar-nos ou companhias que prezarão por manter-nos estacionados, quando não buscarão complicar-nos mais ainda o nosso dia a dia.