Capítulo I – Preconceito, Inveja, Desconfiança e De
Numa colônia espiritual situada sobre a área geográfica de uma capital brasileira desenvolviam-se tarefas múltiplas de socorro, estudo e esclarecimento. Epaminondas atuava na área do estudo mediúnico, junto com Isadora, e costumavam fazer visitas à crosta com estudantes matriculados na referida colônia.
Para esta condição, os que excursionavam sob a supervisão de Epaminondas e Isadora já deviam possuíam uma formação teórica compatível com o assunto, por meio de cursos e leituras, mas a possibilidade de vivenciar casos reais era o que mais atraía a todos os que se candidatavam.
Epaminondas e Isadora orientavam o grupo formado por Rubens, Anselmo e Jônatas, cujos objetivos visavam a estudos e observações mais de perto de um grupo de Estudo e Educação da Mediunidade duma instituição espírita, situada numa capital brasileira.
O papel do grupo era de observar e tirar conclusões, prestando alguma ajuda quando solicitada, seja pela equipe da Casa Espírita, ou algum Espírito amigo nos ambientes outros que visitariam, além da instituição espírita alvo de análises, ou quando Epaminondas e Isadora julgassem que deveria haver alguma intervenção.
Ao aproximarem-se da Casa Espírita, já à entrada e nos espaços posteriores a ela, não obstante ainda não haverem dado início às atividades propriamente ditas, espantava o barulho que os encarnados faziam e que pareciam não se controlarem, não procurando manter um ambiente de silêncio e recolhimento íntimo, pois tratava-se duma reunião diversa das atividades dirigidas ao público em geral, muitos dos quais por vezes são só visitantes, simpatizantes, não possuindo laços de crença com o Espiritismo.
Ao olhar espantado dos três estudantes, Epaminondas aduziu:
– É um grupo de espíritas bem intencionados, mas que ainda não superaram alguns entraves do cotidiano. Participam, já de há algum tempo, dos estudos e das atividades outras que a instituição desenvolve, porém ainda guardam os condicionamentos da vida comum e esquecem-se de adentrar à atividade com uma maior dose de veneração pelos instantes que serão vivenciados, buscando um maior estado de recolhimento íntimo, pois nos instantes que antecedem à reunião de estudo mediúnico, seria de bom alvitre uma leitura edificante, uma reflexão equilibrada sobre si, a vida, sobre a condição humana, e mais importante seria que adentrassem ao ambiente de maneira silenciosa, sem demorarem-se no vozerio que costuma estabelecer nos umbrais da instituição.
Rubens indagou:
– Mas eles já sabem? Então como compreender tais atitudes?
– Sim, Rubens, saber, eles sabem, mas não conhecem, uma vez que as informações até hoje recolhidas e repetidas às expensas não conseguiram reforçar neles o espírito de vigilância por inteiro, nem mesmo hoje quando se solicita o máximo possível de recolhimento íntimo, para que abram as janelas da mente em ordem e calma para o mundo espiritual possa debruçar-se sobre ela. Não basta que o Espírito retenha informações de cunho elevado, para todos nós vige a necessidade de reflexão reiteradas vezes em torno de nós mesmos e do mundo quanto a como nos situamos diante das verdades que absorvemos nessas informações e dos motivos que carregamos em nosso íntimo e que têm nos retido mais à retaguarda na evolução moral, não obstante a nossa boa vontade e os sonhos de crescimento que costumamos acalentar em nosso íntimo.
Anselmo indagou:
– Mas, Epaminondas, se alguém lhes solicitasse o silêncio, partindo de um encarnado igual a eles, não poderiam questionar, alegando que de nada adianta a postura com uma mente conturbada?
– Sim, poderiam, mas consideramos que o silêncio interior, ainda mesmo quando não logrado de todo, é precedido pelo silêncio exterior, porque a mente ocupada com o falatório, muitas vezes até mesmo descontextualizado dos objetivos da reunião, dispersa-se, encontra maiores dificuldades em concentrar-se, em manter um foco único, além do fato de que conversas banais, triviais, mesmo sem nenhum tom menos feliz, não interessam aos objetivos buscados da atividade, além de representarem tentação aos encarnados a enveredarem por outros assuntos, muitas vezes menos dignos, onde até mesmo a fofoca e a intriga comparecem prestamente, quando não abordagens que consideraríamos mais graves e não condizentes com o móvel das ações de estudo mediúnico.
Continuou Epaminondas:
– Justo o júbilo, a alegria do reencontro, e nenhum de nós que não preze os sentimentos de alegria, de fraternidade e satisfação que alguns sentem no encontro das almas que se ligam pelos laços de fé, de amizade e de ação comum, mas é preciso ponderar que as manifestações desses sentimentos podem ocorrer num aperto de mão, num abraço sincero, num olhar carregado de afeto, dispensando-se a bulha própria das crianças de primeira infância.
À medida que o grupo adentrou à instituição espírita, mesmo havendo um outro barulho, era menor do que era registrado à porta, havendo mesmo algum silêncio que tendia a predominar, findando por consolidar-se, permanecendo, contudo, à entrada próxima da rua, conversas em tom de voz elevado, quando não risos meios estrondosos, considerado o ambiente em que estavam presentes os encarnados e desencarnados.
Atingido o horário previsto, a entrada foi fechada e deu-se início às atividades, com leitura, prece e um comentário doutrinário.
Epaminondas e seu grupo a tudo observavam atentos, o que se passava no plano espiritual e com os encarnados que participavam da reunião de estudo.
Entidades amigas, dirigentes das tarefas, estavam a postos, nas mais variadas atividades, desde a proteção do recinto, aplicação de passes, quem iria transmitir alguma orientação por via psicofônica e psicográfica, tudo numa organização impecável, assim como as demais entidades sofredoras, algumas outras menos felizes, que seriam atendidas para treinamento dos estudantes da mediunidade.
Era feita uma triagem dos menos equilibrados que poderiam adentrar ao recinto para o atendimento, desde sofredores desorientados, até mesmo os assim comumente chamados obsessores. Todos seriam convidados à psicofonia orientadora pelo diálogo com o encarnado encarregado da atividade, mesmo que não tivessem disso consciência ou até mesmo se julgassem fortes a ponto de penetrar no recinto à revelia dos dirigentes espirituais e sua equipe.
De maneira geral, à medida que o grupo avançava nos estudos teórico e prático, os que não demonstrassem alguma faculdade ostensiva da psicografia ou psicofonia, eram convidados a envolverem-se noutras práticas dentro da reunião, depois de algum tempo observado pelos responsáveis pela condução do estudo, a exercitarem o diálogo com Espíritos sofredores e obsessores que se manifestavam. Tudo sob a supervisão dos que se encarregavam de dirigir os estudos. Os convidados gozavam da liberdade de rejeitarem o convite, não se obrigando ninguém a alguma atividade, pois que poderiam permanecer noutras ações, como a sustentação pela doação fluídica ou aplicação de passes nos encarnados em transe ou não.
Epaminondas já era conhecido do grupo, dispensando-se as apresentações iniciais costumeiras nesses casos, ele apenas se limitou a indicar os três novos estudantes ao dirigente da atividade como um todo, uma entidade nobre e evoluída, mas simples e natural, que dispensava tratamento e atenção diferenciados, portando-se com dignidade, mas sem ostentação, cujo nome era Jerônimo, assessorado por toda a equipe que cuidava de tudo, acrescentando-se a ela os amigos e mentores dos encarnados que vinham ao estudo mediúnico.
Percebia-se no grupo de encarnados, entre os que coordenavam as atividades e os que participavam na condição de aspirantes a participantes de reuniões mediúnicas, oscilações nas mentes, abrindo-se umas mais que outras às percepções do mundo espiritual, bem como estando algumas totalmente fechadas para a captação, não obstante possuírem faculdades mediúnicas ostensivas.
Como não centralizava em si todas as atividades, Epaminondas permitiu que Isadora trouxesse alguma explicação sobre o fato, que despertava olhares curiosos dos três estudantes desencarnados.
Ela comentou:
– o Espírito, quando encarnado na Terra e em condições medianas evolutivas, em relação ao planeta, encontra grandes dificuldades íntimas em sair da atmosfera em que a matéria envolve-o. Considerando-se a vida material em si, com as suas necessidades imediatas e os demais aspectos ligados ao assunto nos relacionamentos entre eles. De maneira geral, tende-se a viver como um ser biológico aguardando para um dia a experiência espiritual, quando na verdade ele é um ser espiritual mergulhado na experiência biológica, temporariamente.
Desta vez, Jônatas atalhou:
– E como então sair deste cipoal que envolve o encarnado, logrando alguma liberdade do envolvimento da vida material que parece sufocar no encarnado qualquer aspiração para além do véu ilusório da vida física?
– Mesmo quando se esforça nesse desiderato, a criatura encarnada na Terra, ainda oscila entre o que sonha ser e o que tem acostumado a estar, ou seja, conquanto aspire a uma realidade mais evoluída, mais equilibrada e concorde com as Leis Divinas, há todo um passado de repetidas atitudes menos equilibradas, que reclama mudança lenta e passageira, que pode iniciar-se no plano dos encarnados, no que tange à tomada de consciência, quando não a traz consigo do mundo dos Espíritos, e que continua do lado de cá da matéria para prosseguir no mergulho seguinte no escafandro de carne.
Continuou ela:
– É um processo lento e gradual, pois não nos transforaremos num átimo e a informação, conquanto útil, muito útil, é um passo inicial, porque não nos basta saber para que a informação transforme-se em atitude concreta plena diante da vida e dos que nos rodeiam nos dois polos, são necessárias reflexões em cima de reflexões acerca das informações absorvidas, acerca de nós mesmos, como estamos diante dessas informações, quais são as tendências menos equilibradas que carregamos conosco, as crônicas e as agudas, mesmo que imperceptíveis aos olhos encarnados que nos acompanham, lembrando que o progresso moral segue o intelectual, ou seja, o absorver informação, mas aquele não é imediato a esse, portanto, não nos basta apenas saber.
Continuou, ainda:
– nossa acanhada evolução, quando reencarnamos propicia-nos visão enganosa da vida material em todos os seus aspectos, pois que passamos a ter nela um objetivo e não um meio de chegar a outro patamar, inclusive o espiritual, com algum aprimoramento moral, mínimo que seja.
Observando o grupo de encarnados, os desencarnados conduzidos por Epaminondas e Isadora olhavam com atenção como suas mentes comportavam-se durante o estudo, tanto teórico quanto prático.
Por vezes, um ou outro destoava do conjunto de intenções buscadas, tentando fazer prevalecer, de maneira sutil, suas impressões, seus pontos de vista, numa atitude personalista, em que as melhores conclusões fossem consideradas as suas e no aspecto prático, quando alguns dos participantes relatavam as suas percepções, findos os exercícios, havia dúvida por parte de alguns quanto à veracidade do que foi relatado, enquanto alguns outros ressentiam-se da sua falta de faculdades ostensiva. Todos esses estados íntimos eram guardados no silêncio do pensamento dos presentes. Por fora, eram só risos e simpatias, mas havia ressentimentos íntimos.
Uma das participantes, Isaura, não acreditava nos relatos dos colegas no que tange às percepções que os outros participantes do estudo narravam, em especial às visões que aconteciam durante o transe mediúnico, achava tudo exagero de imaginação das mentes encarnadas, uma verdadeira viagem.
Tadeu, um outro participante, trazia consigo a indagação de porque não tinha nenhuma faculdade ostensiva até então patenteada, pois, no seu entendimento, pela folha de serviços das atividades que desempenhava na instituição merecia ser agraciado com algum dom mediúnico, esquecido de que havia sempre outras ações que também poderiam ser exercidas sem o transe mediúnico no âmbito de uma reunião mediúnica de assistência espiritual (desobsessão), tais como direção dos trabalhos, sustentação, aplicação de passes nos encarnados dentro e fora do transe mediúnico, diálogo com os Espíritos comunicantes, mas tudo viria no tempo, com um maior caminhar para frente e um pouco mais de amadurecimento.
Ruth, uma das responsáveis pelos estudos mediúnicos, conquanto à frente das atividade, por vezes, sentia-se como quem não recebesse alguma atenção dos amigos espirituais condutores das atividades.
Esforçava-se sempre por estar presente, manter-se atualizada nas leituras dos assuntos estudados, dar o melhor de si, mas sentia-se, nalguns momentos, como quem cumpre ações de maneira burocrática, protocolar, achando mesmo que o plano espiritual não a acompanhava de perto, não a sustentava. Era portadora de alguma faculdade mediúnica, que não incluía vidência ou audiência, predominando a intuição, a capacidade de captar os sentimentos e pensamentos de desencarnados, neste último caso sem identificar a fonte, mas ainda assim costumava-se a entregar a esses pensamentos de distância do mundo espiritual.
Epaminondas, tomando da palavra, narrou para o grupo, suas explicações:
– A descrença, o personalismo, a inveja e tantos outros males que rondam a mente humana do Espírito estagiário da Terceira Ordem, encarnado e desencarnado, costumam minar, ainda que por breve tempo ou mesmo alongar-se, as belas florações que nos convidam a confiar e atuar de maneira positiva diante da vida. Esses problemas e tantos outros acompanham-nos enquanto encarnados e mesmo após o decesso tumular, porque tendemos a continuar no roteiro de sempre, em especial se nada fizermos por conscientizar-nos e desfazer, gradativamente, os grilhões que nos atam à inferioridade evolutiva.
Continuou:
– A par desses mais variados estados íntimos menos equilibrados, existe a ação menos equilibrada dos nossos amigos menos felizes que atuam de maneira deliberada contra os encarnados, explorando-os em suas deficiências, seja por pertencerem esses desencarnados a grupos criminosos no mundo espiritual, ou isoladamente por inveja ao perceberem que outros esforçam-se por superar entraves íntimos. Todo este quadro de realidade espiritual é uma reprodução do que ocorre no mundo dos encarnados, os que se ligavam a ações menos felizes continuam alguns da mesma forma, acumpliciados em grupos, e os invejosos de antes também permanecem alguns invejando gratuitamente qualquer outra criatura que procura estar bem, mesmo sem vínculo algum com ele. Toda esta realidade tende a potencializar o que os encarnados já trazem consigo em germe, ao mesmo tempo que sinaliza para eles as próprias deficiências evolutivas no campo moral, quando conseguem assim perceber.
Nos quadros que examinamos dos participantes do estudo mediúnico, seja como educandos que estarão em breve nas lides das reuniões mediúnicas e quem coordena essa formação, a melhor maneira de desperta-los é conscientizando-os de alguma maneira quanto a essas questões e, dependendo da história particular de cada quadro, podemos atuar nessa busca. Como a reunião já está terminando, na próxima semana podemos dar ensejo a esses nossos misteres.
Encerradas as atividades, os encarnados deixaram a instituição espírita, Epaminondas e seu grupo despediu do grupo de trabalhadores desencarnados encarregados da condução das atividades, comprometendo-se a voltar na semana seguinte, informando que poderiam, a depender da situação, realizar uma ou outra visita aos que participavam do estudo como um todo, na condição de responsáveis pela realização das tarefas e na posição de quem busca esclarecimento teórico e prática no campo mediúnico, recebendo como resposta que a presença de todos seria sempre bem vinda.
Na reunião seguinte, o grupo de Epaminondas compareceu ao grupo espírita, entabulando conversações com a equipe dirigente das atividades, na programação que seria levada a efeito.
Isadora e Epaminondas conversavam mais de perto com a equipe, enquanto os outros três estudantes espirituais conheciam as dependências do centro espírita e seus trabalhadores.
A ação de Isadora e Epaminondas aconteceria em conjunto com o grupo espiritual que coordenava as atividades de estudo mediúnico.
Quanto ao comportamento bulhento antes notado, pouco havia mudado, tendendo a manter-se o mesmo, ainda que em maior ou menor quantidade de decibéis.
No momento da prece coletiva, Rubens, Anselmo e Jônatas, observaram que próximo à Ruth aproximou-se um dos Espíritos da equipe trabalhadora, aplicando-lhe passes longitudinais.
Epaminondas explicou:
– Eles estão aprofundando, um pouco mais, o transe de nossa irmã Ruth, que já acontece no momento da prece. Irão propiciar a ela que veja e escute o mundo espiritual ao seu redor, uma pequeníssima fração dele, a fim de fortalecer a sua fé na ajuda que sempre lhe é prestada em cada atividade que realiza, pois que sempre logra sair dela sempre melhor em relação ao estado com que adentrou ao centro espírita, mesmo quando se encontra perfeitamente bem.
Percebia-se que, após os passes longitudinais, duas trabalhadoras espirituais aproximaram-se de Ruth com carinho e grande afeição, aplicando-lhe passes revigorantes.
– Nossa irmã, mesmo não sendo médium vidente e audiente, verá a aproximação das duas irmãs que lhe aplicam os passes, bem como ouvirá parte dos comentários que elas fazem, esclarecendo que, por estar num estado de transe um pouco mais aprofundado, permite-se ver e ouvir, parcialmente, o que se passa com ela, num muito pequeno espectro do fenômeno, e tudo isto durante o intervalo de uma prece que está sendo realizada.
Percebia-se, nitidamente, a mudança em Ruth, ela exalava mais confiança, mais certeza e quem pudesse olhar nos seus olhos com mais atenção, notaria um brilho especial.
– Nossa irmã, não obstante a bagagem de informações que carrega e as atividades que desempenha, precisava de um momento como este, porque tendemos a ter em nós o espírito de Tomé, ou seja, às vezes, mesmo que saibamos, necessitamos ver para crer, esquecendo-nos da assertiva quanto à felicidade dos que não viram e creram.
Iniciadas as primeiras atividades e depois iniciado o estudo teórico e prático da mediunidade, desta vez, Isadora foi quem veio esclarecer os três estudantes.
– O mesmo princípio usado com Ruth será usado na sala de estudo, durante a parte prática, será aplicado em Isaura que, assim como Ruth, não possui a faculdade mediúnica de vidência e que será levada, durante o transe, a um estado um pouco mais aprofundado, conseguindo enxergar uma diminuta parte do mundo espiritual presente, de maneira a não mais duvidar dos relatos de seus colegas de estudo, ou seja, ela também “viajará”.
E assim era percebido, desencarnado integrante do grupo de trabalhadores das atividades mediúnicas da instituição aproximou-se de Isaura e iniciou por aplicar a ela passes longitudinais que aprofundariam um pouco mais o transe, permitindo a visão de uma estreita parcela do mundo espiritual que a cercava.
Continuou Isadora:
– o encarnado, na situação em que se avizinha de Isaura está próximo da mesma condição de desencarnado, podendo vislumbrar pela audiência e a vidência alguns desencarnados ao seu redor de modo mais ou menos preciso, mesmo que não seja portador dessas faculdades mediúnicas, em razão de no estado normal desperto não possuir tais percepções, o que caracteriza o médium vidente e audiente, a presença das faculdades em estado de vigília, não necessitando de mergulharem em um transe mais ou menos profundo.
Acrescentou ainda:
– acontece, nalguns casos, que o encarnado só chega a perceber os contornos de um corpo humano, sem perceber maiores detalhes, guardando a impressão de um vulto, e pode mesmo toca-lo e abraça-lo, mas sem guardar detalhes da expressão fisionômica.
Isaura estava expandindo as suas percepções e começou observar alguns Espíritos que se movimentavam na sala, entre a equipe de trabalhadores e outras entidades aguardando o momento azado para os seus atendimentos.
Percebia-se, pelo seu pensamento, o espanto com que captava as visões que tinha, estava surpresa, pois que era ela quem agora estava enxergando o que costumava ouvir dos relatos dos companheiros de estudo na sala, aprendizes como ela, que se preparavam para as lides das reuniões mediúnicas.
O impacto das informações por ela captada foi de grande repercussão, pois que, nos mesmos instantes em que vivenciava a experiência pessoal, concluía, por si só, não deveria mais duvidar dos relatos e das possibilidades mediúnicas dos demais, uma vez plausíveis e coerentes.
Epaminondas comentou:
– Isaura, pelas suas leituras e participações em estudos, não só o mediúnico, bem como em atividades outras da casa que nos acolhe para os nossos estudos, chegou sozinha a conclusão que precisava, sem a necessidade de um recado explícito por via direta ou indireta a ela, que lhe conclamasse a chegar ao roteiro em que aportou, o da compreensão.
– Ela poderia recalcitrar? Indagou Anselmo.
– Sem sombra de dúvida, pois que todos temos como sempre tivemos a opção de escolher os rumos para os nossos passos, abrir-se ao conhecimento ou permanecer no estado de ignorância, pelos mais variados motivos, ceticismo, preguiça, indiferença, orgulho, vaidade, inveja entre outros tantos, mas felizmente Ruth chegou ao destino desejado, esclarecendo-se por ela mesma.
– E quanto ao Tadeu e as suas reclamações mentais por não ter alguma faculdade mediúnica ostensiva?
Desta vez, quem elucidou foi Isadora:
– Tadeu é trabalhador assíduo e que desempenha algumas atividades com afinco, no entanto, pela sua ingenuidade, apesar dos estudos de que participa, acha que as tarefas que desempenha deviam franquear a ele acesso aos dons mediúnicos ostensivo e, pelo fato de entristecer-se com a ausência dessas manifestações, em razão de outros possuírem-nas, não observa que o estado de tristeza, mesmo branda, em que mergulha, traduz-se por inveja, uma vez que, percebendo no outro o que não vê em si, a tristeza visita o seu mundo emotivo.
– Quer dizer, então, que o ele sente é inveja? Indagou Jônatas.
– Sim, sem sombra de dúvida, e ele deve ter cuidado quanto a essas posturas, pois de leve e branda, mesmo que seja, o estado pode agudizar-se, transformando-se numa obsessão que começa sutil, mas arrasta a vítima eleita pelos nossos irmãos menos felizes, escolha esta feita a partir do que cada um de nós já trazemos conosco e muito bem explorado por esses companheiros desencarnados.
– Quer dizer, então, que ele corre perigo? Perguntou Rubens.
– Sim, como todo e qualquer encarnado na Terra está sob esta possibilidade de uma ação obsessiva de um desencarnado, mesmo sem ser médium ostensivo, conquanto os médiuns estejam mais abertos a essas influenciações, ao mesmo tempo que as podem perceber com maior ou menor nitidez, a depender de cada um, pela seu senso de vigilância, o autoconhecimento em que se exercita, com a consequência autocrítica, por todos os esforços que empreende por melhorar-se, salientando-se, porém, que ainda um tanto mais distantes das possibilidade de verem a braços com o problema obsessivo, não estão imunes às influências menos felizes e nem de serem enganados pelas mentes desencarnadas voltadas à ação prejudicial aos encarnados e desencarnados.
Isadora, acrescentou, ainda.
– o fato da pessoa encarnada possuir faculdade mediúnica, ou mesmo a ter de uma forma muito ostensiva e com diversas variantes, tanto quanto vir a receber belas mensagens por via psicofônica ou psicográfica ou de entidades que se identificam com nomes respeitáveis no campo da evolução moral, não a torna diferenciada ou superior a quem não tem faculdade mediúnica ou possui-as em número reduzido e até mesmo um tanto quanto mais insipiente, não nos cabendo dar a um grande valor, no sentido de querer diferencia-las dos demais obreiros da mediunidade ou das demais tarefas das instituições espíritas, assim como tratar, mesmo que pelo pensamento, com a desvalia quem não atrai tanto a atenção sobre si. Não nos cabe confundir os comportamentos da vida ordinária com as realidades da atividade mediúnica, enquanto o poder temporal pode transferir-se em maior ou menor parcela nos jogos de interesse e de tráfico de influência, o mesmo não se dá com os tesouros intelectuais e espirituais de cada Espírito, que constituem conquistas pessoais suas, não se transferindo, de maneira alguma, a outras mãos.
Do livro: Mediunidade